4 de dezembro de 2012
Anderson
Quak assume a secretaria Geral e Celso Athayde, o conselho da Liga dos
empreendedores.
Há
15 anos começava uma nova fase de empreendedorismo na minha vida, o
empreendedorismo Social. Era o nascimento da cufa dentro da minha distribuidora
de CDs de Hip Hop em Madureira, no Rio de Janeiro. Nesse escritório
trabalhava comigo uma dupla que passou a fazer parte da minha história. Minha
ex-faxineira Nega Gizza e meu ex-cobrador e lustrador, MV Bill.
Essa
veia empreendedora me acompanhava desde garoto, desde a Favela do Sapo e das
ruas onde morei com minha família. Antes dessa empresa eu já havia experimentado
outros negócios como camelô em Madureira, produção de bailes, birosca,
venda de limão e alho na feira, só para citar algumas atividades. Mas a
transformação na minha vida se deu de fato quando criei a CUFA – Central Única
das Favelas – em nome de uma luta que hoje me orgulha e muito.
De
lá pra cá, essa tal de Central Única das Favelas só fez crescer. Há pouco mais
de 3 anos anunciei que em 2012 seria o meu último ano na organização,
quando depois dos 10 anos de dedicação eu destinaria meu tempo a outros
desafios e à família. E também porque, uma liderança precisa ter a
sensibilidade de perceber o talento e a capacidade da nova geração para
promover as mudanças e atualizações nos processos de construção de uma
organização. O primeiro passo foi dado em 2010 quando MV Bill e Nega Gizza
passaram suas faixas de presidente e vice da Cufa para os atuais comandantes
nacionais: Preto Zezé (CE) e Dinorá Rodrigues (RS).
Essa
transição só foi possível pelo esforço que a Cufa tem em formar novos quadros,
capazes de manter o trem no trilho. Nesse processo os invisíveis se tornaram
visíveis e fortes, sinônimos da própria Cufa. Muitas vezes um bando de
gente buscando a sua próxima fase, de empreendedor nato pela simples
necessidade de sobrevivência.
Há
tempos percebo as transformações que ocorrem nas favelas impulsionadas pelo
empreendedorismo. Pessoas que acreditam em seus sonhos, se desenvolvem no
meio da adversidade e transformam boas ideias em realidade. Foi esse pensamento
e a necessidade de criar um ambiente favorável aos negócios dentro das
favelas que nos levou a criar a LEC (Liga dos Empreendedores
Comunitários).
Cada
dia tenho mais convicção que a nova fase da emancipação das favelas passa
necessariamente pelo fortalecimento da livre iniciativa e do empreendedorismo.
Hoje, as favelas são um mercado consumidor de mais de 50 bilhões de reais. Se
as favelas brasileiras fossem um estado da federação, seriam o 5º maior estado
do país. A tal da Nova Classe Média cresceu mais nas favelas do que no restante
do Brasil. Simplesmente não dá para ignorar o potencial que este novo mercado
significa não só para as grandes empresas, mas principalmente para o
empreendedor que mora na favela.
Como
disse anteriormente, o meu prazo de validade termina justamente agora em 2012,
quando vejo a nossa família presente em todos os estados, fortalecida e
fazendo a diferença na vida das populações das favelas do Brasil. Num
momento em que estes territórios recebem todos os holofotes pela determinante
importância na economia do país. O que faz deste, o momento mais adequado
para a transição, para uma revolução interna, impulsionada inclusive pela
profissionalização em gestão de lideranças da Cufa orientada pela Fundação Dom
Cabral. A cufa é hoje um filho que cresceu, mas continua filho e precisa de
cuidados e eu vou continuar aqui, perto e cuidando desse lindo que me enche de
orgulho. Saio hoje do dia-a-dia da Cufa e a pedido do presidente, Preto Zezé,
descanso até o dia 03 de janeiro, para tirar minhas primeiras férias em 15 anos
de trabalho na cufa. Mas depois eu volto para contribuir com o que
acredito ser o próximo passo do verdadeiro desenvolvimento das favelas.
Acredito
no empreendedorismo. Acredito que empresários de sucesso, surgirão nas favelas
e em um futuro próximo irão inspirar nossas crianças, tanto quanto os jogadores
de futebol e os músicos. Por acreditar no empreendedorismo como porta de saída
da pobreza e da discriminação, passo hoje, dia 04 de Dezembro de 2012, para o
irmão e amigo ANDERSON
QUACK o Anu preto-Rio, que representa simbolicamente a missão
de coordenar a excelente equipe da Cufa-Rio e o papel de Secretario Geral, e
passo a me dedicar exclusivamente ao conselho da LEC, com o mesmo entusiasmo
que tive quando na fundação da CUFA, ajudando e dando exemplos. Mostrando
que não existe alternativa melhor, mais promissora e íntegra do que o sucesso
construído às custas de muito suor e trabalho. Podem acreditar. Daqui pra frente
não faltarão exemplos de empreendedores de sucesso nas favelas brasileiras.
Vida muito longa a cufa e nossos agradecimentos a todos aqueles que
estiveram do nosso lado estimulando cada um de nós na caminhada. Obrigado
também àqueles que nunca acreditaram em nós, vocês também foram fundamentais.
Vida longa a todos os amigos da cufa.Boas festas e Feliz ano novo,
Celso Athayde.
Fonte: http://cufa.org.br/mudancas-na-cufa/
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